Não me envergonho do Evangelho... só dos evangélicos!

"Não me envergonho do evangelho, pois é o poder de Deus para a Salvação de todo àquele que crê. Pois nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: o justo viverá pela fé" (Rom 1:16) Foi o Apóstolo Paulo quem escreveu tais palavras. Em seus dias, tanto em Atenas quanto em Roma, o evangelho era ridicularizado e visto como produto do fanatismo religioso. Para os gregos o evangelho era insensato; para judeus uma pedra de tropeço e escândalo. No entanto, Paulo afirma sua postura dizendo que, a despeito de toda pompa romana, ele não se envergonhava da origem aparentemente humilde do Evangelho pois sabia que este era o "dunamis" (gr. poder) de Deus. Concordo plenamente! Também não me envorgonho deste Evangelho. Entretanto, estou convencido de que há, pelo menos, dois evangelhos diferentes e distintos em sua essência: um é o evangelho de alguns evangélicos, outro é o evangelho do reino de Deus. O evangelho dos "evangélicos" é um simulacro. Imitação; uma cópia imperfeita do evangelho do Reino. Há um mal que tem atingido o mundo evangélico, em especial, o arraial professo de Deus. Um mal tão flagrante na sua imprudência, que até o menos perspicaz pode notá-lo. O evangelho pregado por alguns segmentos "evangélicos" antes de tudo, tem como proposta atrair pessoas ao invés de levá-las a seguir o verdadeiro Evangelho e a praticar o autêntico cristianismo.

Igrejas tem sido transformadas em "organizações religiosas" que, convenientemente, começaram a utilizar-se de um método muito eficiente de proselitismo: o evangelho do enriquecimento. Esta é uma tática extremamente eficiente e tentadora porque vai diretamente ao ponto mais vulnerável: o consumismo. Expande-se a partir da mentalidade de mercado. O evangelho dos evangélicos é mercantilista, de lógica neoliberal. Nasce a partir dos pressupostos capitalistas, como, por exemplo, a supremacia do lucro, a tirania das relações custo-benefício, a ênfase no enriquecimento pessoal, etc. Tudo o que interessa é o lucro e a prosperidade (palavra quase profética neste pseudo-evangelho) do empreendedor. Tanto dos líderes quanto dos fiéis. O processo é simples: a indústria evangélica moderna - capeta-lista - lança no mercado, todos os dias, milhares de produtos de consumo. Os líderes entram com as técnicas de vendas, as franquias, as pirâmides, o planejamento de faturamento, comissões, marketing, tudo em nome da fé. Além, é claro, das promessas espirituais falaciosas feitas em nome de Deus cuja garantia somente se pode encontrar na prepotência e arrogância dos líderes que a prometem. Por outro lado, os fiéis entram com a busca de produtos e serviços religiosos, estando dispostos inclusive a pagar financeiramente pela sua satisfação.

Esta demanda reprimida faz com que os interessados vislumbrem nesta versão do evangelho uma possibilidade de satisfação pessoal. Daí a necessidade de se apresentar um Deus mercador de felicidade, fazer Jesus se parecer com o gênio da lâmpada. E, neste sentido, as orações e as ofertas passam a ser simplesmente um tipo de "transação comercial". Em síntese, a religião na versão evangélica hegemônica é um business.